Thursday, March 12, 2009

Reflexões Melaninas

Ou diria melhor, reflexões atacadas cancerianas... pra quem sabe um pouco de astrologia...

Hoje é sábado. Minha mesa está coberta de papéis e documentos. O dia que resolvi fazer meu imposto de renda. Não deve ser muito complicado, pois não tenho muita renda. Mas é a primeira vez que faço meu IR sozinha... sem marido, sem Yázigi, sem contador, e sem renda...

Olho a papelada toda e resolvo escrever reflexões nada a ver... existem muitos nomes pra esse estado de negação ... e todo mundo que é gente, conhece.

Acordei faz pouco tempo. Primeira vez, em anos, que acordo depois das 9 da manhã.

(Reflexões cancerianas = seria melhor ter acordado com um pé amigo quentinho...)

Acordo com o pé fedido do gato da Gabi no meu nariz e, ao mesmo tempo, aliviada em perceber que Gabi voltou pra casa sã e salva as cinco da manhã.

(Mamãe sempre me disse que preocupações maternas são pra sempre. Será que a gente deixa de ser mãe algum dia?

Tive um ataque no templo onde eu estudo budismo a sério. O mestre nos pediu para ver e cuidar de todos os seres como se todos fossemos a mãe universal. Achei e acho esse exercício um pé! Ou ele não tem filhos ou eu ainda tenho muito chão/vidas a percorrer. Ser mãe é um saco!!)

Na verdade, acordei as duas e meia da manhã pra levar meu amigo Bruce pro aeroporto. Ele e eu temos um tipo de amizade rara que inclui traslados pro aeroporto. Quando vou pro Brasil e preciso sair as cinco da manhã, aqui está ele as três pra me levar. Desta vez ele comprou o carro dos sonhos em São Franciso e me senti na obrigação de retribuir esses favores esquisitos.


***
No café da manhã, que normalmente seria um almoço, vejo uma manga mexicana na cesta amazonica sobre mesa da cozinha do Ikea. É amarelinha, e não tem sabor nem cheiro... Uma manga que poderia ter sido ser mas jamais será. Um fruto colhido antes da hora.

Jogar no lixo? Re-inventar isso que poderia ter sido numa compota, num bolo?

(Reflexões cancerianas = e os nossos filhos que vão embora antes da hora? Lançados no mundo como sementes sem rumo, sem prumo... ao deus dará...

diferentemente da manga, com sorte um dia amadurecem , ficam saborosos...

Penso nos rebentos dessa cultura americana que, com a maravilhosa e triste certeza juvenil, se acham os donos do mundo e agem como se assim fossem,

nos sem terra,

nos destituidos,

nos bilhões de pequenos espalhados pelo mundo que, por uma razão ou outra, precisam cuidar dos menores ainda...

em todos aqueles que, mesmo antes de virar planta, precisam ser troncos e raizes...

mangas/tomates/goiabas tirados do pé antes da hora)

O imposto de renda me chama...

É sábado ... chove como sempre... gatinho ronronando pedindo comida...

(Reflexões finais e cancerianas = quero minha mesa numa varanda ensolarada, cheia de comida, risos, lágrimas, estórias, amores e dasamores, sonhos ... olhando, escutando, bebendo água fresca, cortando cebola e alho e tomate e manjericão... Afinal, nasci mesmo pra ser mãe...)

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