Sunday, February 21, 2010

Reflexões de inverno




Este inverno consegui dar umas duas escapulidas. Passei o mes de novembro na Bahia e dez dias no sul do México, em janeiro.

Mas foi nesta manhã ensolarada, descendo pelas ruas floridas de cerejeiras, que me dei conta que andei meio que hibernando esses últimos meses. Foi um inverno suave por essas bandas, sem neve nas ruas, nem tormentas, nem grandes desastres. Pra mim, foram meses cuidando da minha saúde.

Não vou entrar nos detalhes, mas um dos sustos foi que vi (os médicos me disseram) que eu preciso tomar mais cuidado com o meu sistema circulatório. Generalizo assim, por causa do colesterol e pressão alta.

Com esses cuidados preventivos tenho aprendido um monte de coisas:

Sim, é possível passar um mes na Bahia comendo saudavelmente nos quilos. (Claro, não há comidinha melhor do que na casa do papai, mas meu trabalho com o Bahia Street me leva pra longe, reconcavo adentro.) Basta escolher entre uma moqueca de peixe e uma colherada de couve! Simples assim! Entre os bolos e as bananas fritas do café da manhã e meio mamão.

Aprendi também que preciso ser firmona comigo mesma quando o assunto é exercício. Agora, não tem espaço de negociação... Entrei numa academia, e... tá bom, não malho nas máquinas... faço pilates e ioga cinco dias por semana. A opção academia acaba sendo mais em conta do que fazer os cursos por fora. Na  saída da academia, todas as manhãs, olho pras geringonças e penso... amanhã te encaro. Mas o fato é que não falto as aulas. Pensei que fosse emagrecer e ficar bem gostosa. Nada disso. Estou mais forte e flexível. A pele também melhorou... acho que de tanto transpirar. Mas o peso continua o mesmo... e o ser gostosa? Ai, não cabe a mim dizer...

Uma outra coisa que aprendi foi a importância do No-how.

Sim, aprender a dizer não. Não pra amigos deprimidos; não pras ONGS pedidoras de milhares de dolares dos outros e que não pagam nem uma dezena aos voluntários; não pros malas que aparecem com filhos, ex-mulheres, dívidas e outras coisas mal resolvidas; não pra minha preguiça em dias de chuva; não pro gato fujão que agora é meu; não pra quem chora e quer dinheiro emprestado e não sai à luta; não pra essa idéia que a gente tem que ter uma missão na vida e que é preciso mudar o mundo.

Neste final de inverno estou mais tranquila. Não vou mudar o mundo, mas faço o que posso e consigo. Esse meu coração mole não vai mais ser explorado. Aceito a minha escolha de estar aqui, no nortíssimo dos EU, com seus lagos, suas chuvas, sua brancura, seu verde, sua diversidade, alguns poucos mas valiosos amigos, (esse gato que começo a amar). Aceito a minha idade. Meu jeito. Minhas complicações. Meus amores perdidos. Meu jeito de ser. Aceito desafios de trabalho enormes desde que façam sentido e gerem recursos.

Esta tarde, reli a dieta que a cardiologista me mandou. Dieta mediterranea: muito azeite de oliva, vegetais, frutas. Bem, tenho seguido essa dieta faz tempo. Mesmo assim, o colesterol continua alto. Vou então seguir a minha dieta paralela de ficar tranquila e ser quem eu sou, ficar longe de baixo astral, da cultura exploratória das ONGs... Agora, o que não está na dieta da cardiologista é o ingrediente fundamental: é preciso regar todas as abobrinhas, azeitonas, beringelas e grão de bico com...

Um amante mediterraneo!

Por que será que os especialistas de saúde esquecem do fundamental?  Aqui nos EU café, amor, tesão, risos, preguiça, abraços, beijos, vinho, curiosidade, bobeira, palavrão,  são vícios... que daqui a pouco poderão ser punidos com chabatadas. Falam tanto das burkas...  


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