Saturday, August 22, 2009

fartura aqui, ali... e o resto?



Desde que comecei a receber as minhas caixinhas orgânicas das fazendas locais, me deparei com um desafio. Dois, na verdade...

Um, é preparar uma caixa inteira de legumes, verduras e frutas, em duas horas, de forma a não ter desperdícios e ter um montão de coisas prontas pra fazer quando der na telha. Então, lavo todas as alfaces... tomate não, que estraga. Mergulho em água fervente o brocoli, as vagens, mesmo as cebolinhas brancas, as cenourinhas... jogo na água fria e congelo. As beterrabas? Ah, essas eu como cruas durante a preparação das coisas todas e passo o resto da semana fazendo xixi vermelho...

O segundo desafio, é resolver o que fazer com os talos, folhas, cascas dessas coisas tão fresquinhas... Não tenho coragem de jogar no lixo.

Fico lendo as notícias todas, principalmente sobre as meninas mulheres, e homens também, em cantos distantes do mundo, com tão pouca liberdade e menos ainda variedade no que comer. Essa semana principalmente, no New York Times, um dos meus heróis, Nicolas Kristof, tem falado e escrito muito sobre a questão das mulheres no oriente médio. Não dá pra jogar no lixo coisas que poderiam alimentar duas famílias inteiras...

O desafio nº 1 é o mais fácil... preparo tudo rapidinho.

O desafio nº 2 exige um pouco mais de tempo e criatividade e uma determinação: o que estiver ainda bom e fresco no domingo, ou reutilizo, ou dou a quem estiver pedindo nos farois. (aqui também tem um monte de gente faminta nos faróis)


Hoje é domingo, olhei na geladeira e vi o montão de restos:

Uma espiga de milho cozida
Umas salsinhas tristonhas
Montes de talos de brocoli
Umas cenouras pálidas
Duas cebolas assim, meio murchas
Uns dentes de alho ainda em forma
Uma batata pedindo socorro
Um fundo de fubá de quando a Selma aqui esteve e nos fez um bolo delicioso
Montes de restos de queijo... parmesão, emental, gruyere ... quase mofados
Dois ovos da galinha caipira da semana passada.

Cozinhei as coisas mais duras... batata, cenoura, talos de brocoli. Misturei tudo com um tantinho de sal, pimenta do reino e cominho. Fritei a gororoba, colher a colher, numa frigideira com azeite e ghee.

Pronto: usei os restos e tenho minhas panquecas deliciosas pro café da manhã até quinta próxima, quando chega a nova caixa. Ficou tão gostoso que vou até dar algumas pra um pessoal que perambula pelo bairro.

Gente... um pouco de trabalho mas pode haver fartura maior?

PS Tem um pessoal muito jovem, nas favelas de Mumbai, criando um espaço para a comunidade, onde nutricionistas, mães e avós preparam alimentos deliciosos e nutritivos usando os restos doados pelos hotéis e restaurantes. Os restos são cascas de frutas e verduras, legumes e grãos. Por menos de R$0.15 uma família pode ter uma refeição completa, nutritiva e preparada de acordo com as tradições locais pelas mães e avós da comundidade. Esse projeto foi concebido por alunos indianos residentes em Seattle e seus colegas em Mumbai. Ganharam um prêmio em dinheiro, da Microsoft... suficiente para construirem a segunda unidade nutricional naquela favela. (aquela do filme, lembram?)

2 comments:

Anonymous said...

Parabens, Na natureza tudo se cria, na cozinha tudo de recicla.

Processo FENIX.

Beijos.
Robero

Melanie Claire Young said...

esqueci de dizer que tudo também acaba em caldo... nesse caso, de legumes...