Monday, August 3, 2009

Gato, família e um ataque de amor

Nesse país onde moro, o ritual do café da manhã em famíia foi esquecido. O pessoal acorda, faz o pão com sei lá que mais, come com a bunda na borda da pia. Os mais naturebas, misturam granola – de caixa colorida – com um pouco de iogurte e frutas. Mas o bundão fica na borda da pia. Os mais apressadinhos vão comendo no caminho da escola ou do trabalho ou da caminhada. Já vi até gente tomando sopa quente de manhã cedo nos farois vermelhos.

Bem, no final da semana passada, busquei o Philippe no aeroporto e viemos pro meu cantinho pra tomar café da manhã, com a Cati, o Ben e a Gabi. Estávamos todos com cara de noite mal dormida, ou manhã interrompida.

Mas, voilá... os cinco ao redor da mesa para uma café da manhã de verdade. Ovos, bacon, café bem forte, pão cheiro de grãos e sementes, um ou dois queijos, presunto puro sem adição de água, galéias e uma especial feita pela companheira do Philippe – que, pelo jeito, adora subir em árvores pra catar frutas silvestres sob os olhos azuis admiradores do Philippe :-)

Como num bom café da manhã em família, durante os papos e fofocas, a Gabi nos lembrou pela enésima vez que ela quer se mudar pro canto dela. E eu acho bem legal que ela queira ter e cuidar do espaço dela.

Nesse papo, deu-se a mágica: surgiu o clima de Mauá, com a mesa do café coberta pelo sol da manhã, aquecendo madrugadores insones, ressacas, discussões desparatadas, planos para o dia, fofocas, picuinhas, interpretações de sonhos, astrologia e todas essas coisas...

“E o que você vai fazer com o gato?” a Cati perguntou.

“Eu vou sentir falta dele” fui dizendo. Engraçado que é menos estressante dizer que vou sentir saudades do gato do que confessar que vou sentir falta dela. Porque a dramática da Gabi tende a interpretar esses gestos como sendo drama materno ... e eu não estava a fins de entrar nesse clima naquele café da manhã.

“Não sei,” disse a Gabi. “Tem uma coisa nesse gato que eu não curto... ele solta muito pelo. É pelo na roupa, no chão, no tapete, em todo canto!”

Parei de prestar atenção na conversa que foi explorando alternativas para esse problema do pelo que incluiu raspar de vez o gato todo.

Parei de prestar atenção porque estava curtindo imaginar meu apartamento livre de pelo, de formigas comedoras de ração, de gato fujão que precisa que alguém abra a porta do prédio pra ele voltar pra casa. Curtindo imaginar meu coração livre do gatinho, pois gostar ocupa espaço interno.

O sol e o burburinho da conversa da família naquele café da manhã... quatro pessoas lindas e um gato peludo, cada um no seu canto, com seus sonhos, prazeres, fazeres.

Será que o espaço físico que ocupamos no mundo tem tanta importância? Gosto de sentir o gigantesco, invisível espaço que as pessoas e outras criaturas amadas ocupam na minha vida. E, como todos os corações precisam ser regados com carinho acalentador, nada melhor do que uma mesa de refeição onde a comida e o papo servem apenas como pano de fundo para um magnífico ataque de amor. Até pelo gato que pula da varanda deixando atrás de si, no ar, uma nuvem de pelos.

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